Era uma vez um burro, cinzento-escuro, luzidio, bem anafado, que pertencendo à Sociedade Agrícola do Chuabo Dembe, nos arredores de Quelimane, dava pelo nome de “Amaral”. O asinino, de fino porte e bem representativo da espécie, gozava do privilégio de ser por todos acarinhado e de dispor de uma certa liberdade de pastorícia que nem todo o irracional desfruta!
Cedo se ausentava do Chuabo Dembe para deambular por todo o sítio onde o verde fosse mais tenro e a sombra mais apetecível à ruminação. Se o chamassem…vinha à mão, se o acariciassem…agradecia com as orelhas.
Um dia, pelo palmar da dita Sociedade Agrícola, e já nas redondezas da área da antiga F.A.E., avistei o “Amaral”. Aproximei-me dele, afaguei-o e ficámos juntos por uns minutos naquela troca cordial de mimos a que ele já se habituara. Quando me dispus a deixá-lo o animal seguia-me, obviamente. A minha retirada não estava fácil! E como não era possível deixar que a perseguição se mantivesse, por muito grande que fosse a teimosia dele, procurei alguém que por ali andasse por perto e fosse capaz de o “distrair” para que me sentisse liberto da sua simpática companhia. Eu tinha os meus afazeres e não me podia demorar mais tempo por ali.
Avistei na estrada que dava acesso ao aeroporto um trabalhador que se dirigia para os lados do Chuabo Dembe e chamei-o:
-“Hei! Você vai no Chuabo Dembe?” – perguntei
-“Vai, sim senhóra, patarão!” foi a resposta imediata
Seguiu-se o meu pedido:
-“Então você não importa de chóvar o Amaral para lá, mane, mane?”
-“Não senhóra…não pode mesmo!” – foi a lacónica resposta que ouvi.
Insisti mais uma vez no favor, convicto da sua prestimosa aceitação:
-“Vá lá…leva lá o Amaral que ele é amigo de você!”
-“Não pode, senhóra!...não aguenta!!” – novamente a mesma resposta que tinha dado, desta vez com um sorriso de comprometimento.
-“Mas não pode, porquê?” – insisti.
-“Porque…Amarrale… é eu!!!”
Autor: José Joaquim Caldas Duque
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