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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Histórias de um passado em Moçambique - "Vida por Vida"


Estávamos num qualquer dia de Fevereiro de 1974 ao fim da tarde.


O meu “mainato”, mais que isso era um grande amigo, partilhávamos dia a dia o que nos restava para nos alimentarmos. Nesta luta de saciarmos o estômago já que o que restava era algum arroz, feijão e farinha que era o “pão-nosso de cada dia”, mas tomado pelos bichinhos (gorgulho). Ainda me recordo e bem que o feijão era cozido em bidões de gasóleo! O pão esse vinha sempre com “brinde” como o bolo-rei, só que os brindes eram sempre esses indesejáveis parasitas.

Bem voltemos à “vida por vida”.

Nesse fim de tarde o Inácio disse-me: « roubei dois ovos ás galinhas que andam lá no aldeamento ». Estávamos perante um “banquete”. Arranjaram-se uns pauzitos e pouco depois já haviam brasas. A panela essa era uma lata da margarina made in South África. Os nossos olhos deslumbravam-se e a barriga essa preparava a passerelle para tão apetitosa iguaria.

Eram quase 18h e a escuridão começava a abater-se. Mas qual quê, o que interessava era o “festim”. Enquanto eu mirava o conteúdo da lata, o Inácio deu uma cambalhota para a retaguarda e ao mesmo tempo gritava,« nosso cabo Afonso, saída (expressão utilizada quando se ouvia o estampido seco de um morteiro). Logo de imediato faço a mesma acrobacia e ficamos atrás de um pequeno murete onde se faziam as refeições. Decorreram talvez uns 3 segundos e eis que a morteirada cai precisamente em cima da nossa ementa! Nunca mais vimos nem a lata, tão pouco os ovos e as brasas essas sumiram. Ficou em seu lugar uma cavidade produzida pela granada de morteiro.

Entretam-to desencadeia-se uma flagelação ao nosso destacamento. Não houve baixas, ou antes, houve nos nossos estômagos amargurados.

Valeu a vida que ainda hoje desfruto. Quanto ao Inácio nada mais soube dele quando sai do aquartelamento. Fiz algumas diligências, mas nada. Fico com a amargura de perder esse “elo” da minha vida.

João Afonso
24/09/2010

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